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BRASAS VÍVAS

Deus, José e o impacto de sonhos realizados – Gênesis 37 a 50

  A história de José é uma das mais instrutivas do Velho Testamento. Não é sem razão que o livro de Gênesis dá mais espaço a vida de José do que a de qualquer outro personagem. Sua vida foi tão significativa que ele foi incluído na galeria dos heróis da fé, mencionada em Hebreus 11:22. Mas “o relato dos sonhos, vindo logo no início, faz de Deus, não de José, o herói da história” (Derek Kidner em Gênesis, Introdução e Comentário – Vida Nova), afinal, não há quem controle os próprios sonhos.
 
Os capítulos anteriores de Gênesis narram diversos fatos que nos levam a concluir que José vivia em um lar desestruturado. A narrativa bíblica dá, ainda, a impressão de que Israel (Jacó) nada aprendera com sua experiência anterior de favoritismo, tanto que Gênesis 37:3 diz: “Ora, Israel gostava mais de José do que de qualquer outro filho, porque lhe havia nascido em sua velhice”. A vida de José, entretanto, vai mostrar que nem tudo que uma pessoa recebe no lar, nem tudo que vê e ouve em casa, precisa ter influência determinante em seus dias posteriores.
 
Na história narrada a partir do capítulo 37, vemos que os irmãos de José o odiavam porque percebiam a preferência do pai. O clima entre eles era tão ruim que o texto diz que “não conseguiam falar com ele amigavelmente”. A situação já era complicada quando José teve sonhos, e relatou-os, tanto aos seus irmãos, quanto ao seu pai. Isso só fez aumentar o ódio de seus irmãos.
 
A ira dos irmãos os levou a desejarem sua morte, e isso só não aconteceu por intervenção divina. Ruben, o irmão mais velho, foi usado por Deus para livrar José (Gn 37:21). Ao invés de matá-lo, resolveram vende-lo. Seus irmãos lhe arrancaram a túnica, marca da preferência do pai, e o jogaram em um poço, que estava vazio (Gn 37:23).
 
O mal-intencionado plano dos irmãos se concretizou quando eles se deparam com uma caravana de comerciantes Ismaelitas, carregados de produtos, indo em direção ao Egito. Vinte peças de prata para cá, José para lá, e lá se vai o “filhinho do papai”, que os irmãos não toleravam mais ter por perto.
 
Assim como diz o Salmo 42:7: “um abismo chama outro abismo”, os irmãos de José experimentam essa verdade. Para explicar ao pai a ausência do irmão, eles inventam uma tragédia: matam um animal e molham a túnica de José no seu sangue, desejando que Jacó concluísse que um animal selvagem havia atacado seu filho amado (Gn 37:31-33). No fundo de seu coração carregado de maldade, os irmãos de José pensam terem-se livrado dele. No entanto, como sabemos, o herói da história é Deus, e nada pode sair do Seu controle.
 
Chegando ao Egito, José foi vendido a um oficial do faraó e capitão da guarda. Na casa do influente e poderoso Potifar, José teve a oportunidade de mostrar seu caráter, justificando por que tinha sido escolhido por Deus, para dar continuidade à aliança firmada com Abraão. Nesse tempo, José experimentou altos e baixos. Tempos de grande êxito, e tempos de injustiça e frustrações.
 
José chegou à casa de Potifar como um simples escravo e aos poucos foi dando evidências de honestidade, responsabilidade e lealdade. No capítulo 39 lemos que quando Potifar percebeu que o Senhor estava com José, e que tudo que José realizava prosperava, colocou-o como administrador de todos os seus bens: “Potifar deixou a seu cuidado a sua casa e lhe confiou tudo o que possuía” (Gn 39:4). O texto não deixa claro a forma como Potifar reconheceu a causa da prosperidade de José. Entretanto, não é difícil concluir que deve ter sido em decorrência do testemunho do próprio José, que a todo instante devia atribuir a Deus a razão de suas habilidades e de seu caráter.
 
Mas o texto diz que “José era atraente e de boa aparência” (Gn 39:6). E essa descrição é a introdução da narrativa do episódio entre ele e a esposa do seu patrão. José estava vivendo um tempo de ventos a favor. Sucesso, muito sucesso. Mas não é justamente quando as coisas caminham bem que o inimigo fica de olho, preparando ciladas para os filhos de Deus? A mulher de Potifar aguardou um momento oportuno e atacou o homem a quem o seu marido havia confiado todas as coisas. Resistir não deve ter sido fácil para José. Ele era jovem e saudável, e estava na época em que o impulso sexual anda à flor da pele. E não devemos nos esquecer que frequentemente, os tempos de sucesso tendem a produzir orgulho, e a gerar uma baixa natural da guarda, tornando a pessoa vulnerável.
 
A mulher de Potifar mentiu ao relatar o acontecido, e pressionou o marido a agir. A Bíblia Vida Nova sugere que “se Potifar tivesse crido naquela história contada por sua mulher, certamente teria executado a José”. Mas o respeito que José havia conquistado perante Potifar certamente contribuiu para que houvesse um “abrandamento da pena”. Acima de qualquer outro motivo, Deus estava cuidando e preservando a vida de José. Como conseqüência, José vai para a prisão. E embora estivesse preso no local em que eram postos os prisioneiros do rei (Gn 39:20), não devemos imaginar que fosse um lugar de algum conforto, porque o Salmo 105:18, mencionando José, informa: “Machucaram-lhe os pés com correntes e com ferros prenderam-lhe o pescoço”. Por mais de dois anos José permaneceu preso.
 
Quando o faraó tem sonhos que não podem ser interpretados pelos magos do Egito (Gn 41:8), José é lembrado pelo chefe dos copeiros, que sugere o seu nome como alguém capaz de ajudá-lo. José não só interpreta os sonhos, mas como a graça de Deus era abundante sobre a vida de José que ele foi capaz de apresentar um plano para salvar o Egito do tempo de fome que estava por vir. O faraó fica tão encantado que entrega a José o comando do seu palácio e determina que todo o povo se sujeite às suas ordens.
 
Ao ser vendido pelos irmãos, injustiçado pela mulher de Potifar e esquecido na prisão, José tinha tudo para ser um homem revoltado, amargurado e ressentido. Mas, como mostra a continuidade do texto, José não permitiu que qualquer dessas coisas negativas e destrutivas o afetasse. José podia agora, do alto de sua posição, vingar-se de todos. Mas o jovem governador, de apenas 30 anos (Gn 41:46) escolheu usar o seu poder para beneficiar não só a terra do Egito, mas todo o mundo.
 
Quando a fome alcançou a terra onde vivia seu pai e seus irmãos, Jacó enviou seus filhos para buscarem alimento no Egito. E embora José fosse o governador, tinha a responsabilidade pela venda do trigo aos povos da terra (Gn 42:6). Que bela oportunidade para José pagar os seus irmãos com a mesma moeda. Afinal, agora eles dependiam de José para sobreviver.
 
A princípio José não se dá a conhecer a seus irmãos, e chega até mesmo a tratá-los com aspereza. Entretanto, no coração de José há amor e misericórdia, e ao ver seus irmãos prostrando-se diante dele, lembra-se imediatamente dos sonhos que tivera (Gn 42:6-9). Ele testa seus irmãos de todas as maneiras para ter certeza de que agora tinham uma nova atitude. No segundo encontro com os irmãos, o choro compulsivo revela que seu coração já não aguentava mais de tanta emoção, e ele dá-se a conhecer (Gn45:2).
 
Impressiona a convicção que José revela a respeito da soberania de Deus sobre aqueles que o temem. São marcantes as palavras que ele usa para consolar seus irmãos: “Assim, não foram vocês que me mandaram para cá, mas sim o próprio Deus. Ele me tornou ministro de faraó, e me fez administrador de todo o palácio e governador de todo o Egito” (Gn 45:8). Não é possível encontrar nessa fala de José qualquer princípio de rancor, mágoa ou vontade de vingança. Com essa atitude José se tornou benção para seus irmãos, seu pai, o povo de Israel e a história.